Conheça um pouco da História que marcou o início da Cidade de Cajamar e ficou conhecida mundialmente como a greve mais longa do mundo
Tudo começou em maio de 1962 quando trabalhadores da fabrica de cimento Perus, pertencente à família Abdalla, reivindicavam o pagamento de salários atrasados, o cumprimento de acordos coletivos, reajuste e pagamento da verba para casa própria no período de dois anos.
Indignados com o não pagamento de salários e benefícios, trabalhadores da Fabrica de Cimento em Perus bem como das pedreiras de calcário no bairro Gato Preto, cruzaram os braços no dia 14 de maio de 1962. Depois de muito tempo, as maquinas foram desligadas, pondo fim ao som infernal que não parava sequer para manutenção.
Assim teve origem à greve que no início durou 99 dias e paralisou aquela que foi a maior fábrica de cimento da América Latina, responsável pelas construções dos primeiros edifícios da Capital Paulista. No centésimo dia, houve uma operação fura-greve, onde muitos voltaram ao trabalho por influência da deputada estadual Conceição da Costa Neves, que na época frequentava a região para convencer os operários a retornar ao trabalho com base em acordos.
Assim surgiu o movimento dos “Pelegos e Queixadas”, onde os “Pelegos” foram os que aceitaram o acordo político feito pelo patrão e voltam ao trabalho quase que escravo, com condições mínimas que muitas vezes chagaram a matar trabalhadores por exaustão. Já a maioria dos trabalhadores, chamados de “Queixadas”, se tornaram pessoas “indesejáveis” por Abdalla e foram impedidos de voltar ao trabalho o que causou um conflito épico na região, com ocupação militar em Perus e Cajamar.
Durante o ano de 1962, os “Pelegos” fizeram passeatas e protestos no centro da Capital, além de greve de fome em frente ao palácio do governo do estado. Em 1963 o Sindicato dos Queixadas, entrou com ação para reintegrar os trabalhadores, Abdalla negou, com a justificativa de abandono de emprego e ainda quis despejá-los das vilas operárias, mandando inclusive cortar água e luz nas casas. Houve resistência e trabalhadores foram aconselhados a tirar uma nova carteira de trabalho e trabalhar em outro local. Muitos trabalhadores abandonaram suas casas e foram para outras cidades.
Os grevistas permaneceram por sete anos na luta, com perseguição policial, sem trabalho e por muitas vezes passando necessidade.
Abdalla, dono da fabrica de cimentos, foi denunciado por Corrupção e a grave foi legitimada pelo governo em 1967, quando os trabalhadores foram reintegrados a empresa. A fábrica teria de pagar os salários correspondentes aos sete anos. A luta continuou com denúncias de fraudes contra Abdalla e a reivindicação da cogestão da fábrica. A greve foi considerada legal apenas em 1975, quando o governo federal pagou os salários referentes aos 2.448 dias de paralisação e interveio na fábrica.
Após grandes passeatas apoiadas pela igreja católica em 1974 contra a poluição causada pelas fabricas que causavam mortes pela contaminação do solo, ar e condições de trabalho, os trabalhadores exigiram o confisco total dos bens de Abdalla, o pagamento dos salários atrasados e a instalação de filtros nas chaminés.
Com inúmeras denúncias, protestos e pressão popular, a fabrica foi fechada em 1983, pondo fim a um inferno que sacrificou vários trabalhadores e mudou completamente a História de Cajamar.
Nos dias de hoje, o local onde se localizou uma das fabricas de Abdalla, faz parte do conjunto empresarial “Industrial Park”, no qual abriga inúmeras empresas e comporta o polo logístico de Cajamar.
Referências: “Livro o cimento das almas”
“A lição dos Queixadas”
“Entre Pelegos e Queixadas”
Texto:Fernando Crus